INTRODUÇÃO
Aqueles que tem como
hobby as montagens caseiras, o famoso DIY, e que experimentam som valvulado, em moda principalmente para os guitarristas,
com certeza já pensaram em montar seu próprio equipamento. Geralmente o sonhado par de 6L6 ou EL34 entregando de 50 a 100
Watts de bom barulho.
Atualmente conseguir
válvulas é fácil. Há muitos sites, principalmente dos EUA, oferecendo as excelentes Sovtek ou JJ a bons preços e chegam rapidinho.
Quem não quer esperar ou arriscar a compra via Net, que dê um pulinho na Sta Ifigênia. Elas também estão por lá.
O transformador de
força é relativamente simples resolver. Há “enroladores” e lojas por aí que fazem até bons serviços por preços
acessíveis.
O grande problema
com que o construtor irá topar é o transformador de saída! São caros, muito difíceis de se achar, praticamente impossíveis
de se importar. Não apenas pelo custo elevado do frete como também porque, sendo um componente pesado, a maioria dos serviços
de entrega rejeitam este trabalho impondo limite no peso das remessas. E finalmente quando se acha algum por aí, fica a dúvida
da qualidade.
Bons transformadores
de saída são jóias raras... Em sua construção eles exigem muita tecnologia tanto na arquitetura dos enrolamentos quanto dos
materiais empregados. Os grandes fabricantes (do passado) guardavam os segredos do bom desenho pois, alem da teoria, há muitos
truques práticos, coeficientes “mágicos”, detalhes esquisitos e outras minúcias e aprendizados que foram adquiridos
na prática e não só nos livros.
Mas, como nada deve
deter quem está a fim de experimentar, uma pergunta começou a me incomodar: Por que não usar um transformador de força, com
a correta relação de espiras, como transformador de saída?
Bom, o simples atrevimento
de considerar esta opção já ativa o repúdio à idéia pelas limitações inerentes aos trafos de força. Considerando o uso em
freqüências de áudio, os trafos de força usam chapas de baixa qualidade, tem seus enrolamentos simplesmente empilhados (nem
pensar em entrelaçamento), nem pensar em entreferro e a grande barreira da baixa indutância do primário.
Por outro lado, desafiando
estas premissas todas, continuava a pergunta: Por que não experimentar? Por que condenar sem provar?
Junto vinha o empurrão:
Os radioamadores chegaram a usá-los – lá pela década de 70 - como transformadores de modulação, geralmente casando um
power de áudio transistorizado com a impedância bem mais elevada da válvula de saída de RF. Claro que a qualidade de áudio
não contava muito naqueles velhos AM que jogavam papo fora na banda de 40 metros. Mas funcionavam!
Acontece que quando
a dúvida fica martelando na cabeça só há um remédio pra resolver... ligar o ferro de solda, espalhar alguns instrumentos na
mesa e por mão na massa.
Foi o que fiz. E
fica descrito neste texto algumas avaliações básicas feitas nesta direção, com o objetivo de servir de estímulo pra quem quiser
ir mais fundo nas considerações e, principalmente, para despertar interesse em outros experimentadores para, quem sabe, com
ligeiras alterações construtivas nos trafos de força conseguir esticar um pouco mais seu desempenho.
Então vamos passo
a passo nas avaliações feitas.
1. A RELAÇÂO
DE IMPEDÂNCIAS
Os manuais de válvulas
indicam a impedância de carga correta para as válvulas trabalhando em várias categorias e níveis de potência. E se para um
determinado tipo o manual não fornece ou se queremos usá-las numa condição diferente das propostas, é possível determinar
a carga ideal através das curvas de placa.
Outro parâmetro que
deve ser conhecido é a impedância do alto falante que vamos usar, geralmente 4 ou 8 Ohms.
Estes são os dados
de entrada.
Ao se ligar uma carga
no secundário do transformador (Zs), a impedância que aparece refletida no primário (Zc) é dada por:
Zc = Zs x (Np/Ns)²
Onde Np/Ns é a relação
de espiras do trafo.
Exemplo prático:
O manual de válvulas
indica para uma 6V6 trabalhando em classe A
Va = 250V
Vg2 = 250V
Ip = 35 mA
Potência de saída
= 4,4 W
Impedância de carga
(Zc) = 5000 Ohms
Suponhamos que vamos
usar um falante de 8 Ohms
A relação de espiras
que o transformador de saída deve ter para fazer o casamento é de
Np/Ns = √(Zc/Zs) ou seja √(5000/8) = 25
Observar que esta
relação de espiras é muito próxima na que existe num trafo de força de 220 para 9V.
Para facilitar as
coisas, abaixo está uma tabelinha com a impedância de carga (que a válvula vai “enxergar”) no primário de 220V
de um trafo de força quando em seu secundário usamos um falante de 4 ou 8 Ohms.
Claro que a pratica
admite uma certa flexibilidade e podemos usar o número que mais se aproxima.